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  • Foto do escritorLucas Freitas

Rom: O Cavaleiro do Espaço - Um curioso caso de licenciamento que virou parte do Universo Marvel

Atualizado: 4 de abr.

Um breve passeio pelo túnel do tempo para falar um pouco sobre Rom: O cavaleiro do espaço e sua inserção no universo Marvel.


Então, este texto faz parte da série de "textos que não estavam originalmente planejados para sair mas que, graças à uma reviravolta nos fatos, terminou ganhando prioridade." Mas acredito que vou conseguir fazer essa mudança de percurso valer a pena ; )


Rom, O Cavaleiro do Espaço

Na semana passada, tivemos o anúncio de que a Marvel, após acordo realizado com a Hasbro, iria republicar a série do Rom: O cavaleiro do espaço (Rom: Spaceknight) no formato de omnibus - aqueles calhamaços de mais de 300 páginas e mais de 300 reais que saem por aqui.


Mas permita-me cortar a divagação antes que ela se expanda demais, sim?


Para aqueles que não o conhecem - e aposto que são muitas pessoas - Rom: O cavaleiro do espaço, foi uma série de 79 edições ( 75 edições normais e 4 anuais ) lançada entre 1979 e 1986 com roteiros de Bill Mantlo e arte de Sal Buscema, Nela, acompanhamos a saga de

de Rom - surpreendente, não? - um alien do planeta Gálador, um pacífico planeta altamente evoluído onde seus habitantes não conhecem mais a violência, fome ou pobreza.


Isso tudo muda quando Galador é atacada por uma raça de aliens transmorfos conhecida como Espectros (Dire Wraiths, no original), que, saídos da Nebulosa Negra, se engalfinham em um combate mortal com o até então pacífico povo. Em seu momento de maior necessidade, os cientistas galadorianos criam os cavaleiros espaciais, um procedimento que transforma cidadãos comuns em ciborgues de batalha. Para ajudar seu mundo, Rom é o primeiro a se voluntaria para o experimento, sendo logo seguido por aqueles que formarão a primeira geração dos Cavaleiros Espaciais.


Primeira linha de defesa de seu mundo, os cavaleiros espaciais se lançam em uma longa guerra contra os Espectros, conseguindo vencê-la ao custo de muitas vidas e destruição.

No entanto, longe de estarem completamente vencidos, os invasores remanescentes decidem se espalhar pelo universo com o intuito de conquistar novos mundos e recursos para realizar uma guerra de vingança contra Gálador e seus cavaleiros espaciais.




Para impedir que os horrores da guerra se repitam em outros mundos, Rom reúne um grupo dos cavaleiros espaciais e parte em busca dos Espectros remanescentes no universo. É nessa busca que o ciborgue termina vindo parar na Terra, de posse apenas de seu Tradutor Universal - que lhe permite aprender a língua do planeta em que se encontra; seu Analisador, ferramenta que lhe permite detectar os aliens apesar de seus disfarces e o Nulificador, arma com a qual Rom pode banir seus inimigos para uma outra dimensão.


Contudo, tendo chegado na Terra antes do cavaleiro do espaço, os Espectros já conseguiram se infiltrar na sociedade humana, ocupando uma série de postos nas áreas mais importantes do governo norte-americano, ganhando assim poder, influência e recursos que os colocam em vantagem no confronto terrestre. Não só isso, apesar do seu Analisador, apenas Rom é capaz de ver os Espectros em sua verdadeira forma, de modo que, para os demais seres humanos, o ciborgue alienígena está matando outros humanos de modo aleatório. De início sozinho em sua jornada, Rom logo será acompanhado em sua missão pelos humanos Steve Jackson e Brandy Clark, que se tornarão seus aliados em sua guerra contra os habitantes da Nebulosa Negra.


Ou, pelo menos, essa foi a história criada por Bill Mantlo para os quadrinhos do personagem.


Porque, e aqui a história fica interessante, na verdade, Rom não iniciou sua existência nos quadrinhos, mas antes, nas prateleiras das lojas de brinquedos.


Criado pelo trio Scott Dankman, Richard C. Levy e Bryan L. McCoy, Rom foi um brinquedo produzido pela Parker Brothers , empresa de jogos de tabuleiro, como o Monopoly, que estava iniciando sua expansão para o setor de brinquedos.


O Rom original, como você pode ver na imagem ao lado, era esse simpático robô de plástico, praticamente sem articulações e com circuitos integrados, o que permitia não só acender os leds de seus olhos e acessórios , como também produzir uma série de sons.


Para promover o boneco, a Parker Brothers entrou em contato com a Marvel Comics, licenciado o mesmo para a editora que, por sua vez, desenvolveu tudo associado ao personagem. Isso mesmo, toda a história do personagem, da origem no planeta Gálador, a guerra contra os Espectros, o fato dele ser um ciborgue, tudo isso foi criado por Bill Mantlo, o roteirista responsável por desenvolver a série de quadrinhos do boneco. Apesar desses esforços, porém, o boneco teve vida curta, sendo considerado um fracasso de vendas, ainda que o mesmo não possa ser dito de sua série.


Afinal, como mencionado acima, a série teve um total de 79 edições ao longo de praticamente 8 anos de publicação, tendo interagido com personagens importantes da Casa das Ideias, como os X-men, então no auge de sua popularidade, O Incrível Hulk entre outros.


E aqui temos o segundo ponto de interesse nessa fascinante história do licenciamento do Rom pela Marvel Comics.


Apesar de ter a possibilidade de criar um universo do zero, a editora trouxe o cavaleiro do espaço para seu universo regular - também conhecido como 616 - inserindo-o no mesmo universo que outros medalhões da casa. Isso, obviamente, tinha o intuito de promover a marca em questão, visto que com isso abria-se a possibilidade de colocá-lo em ação ao lado de personagens já consagrados, chamando, assim, a atenção de leitores que, de outra forma, poderiam não se interessar, ou sequer conhecer a existência desse título.


Essa é uma decisão bem curiosa, visto que outros títulos licenciados, como G.I Joe, Transformers, Star Wars e Indiana Jones, por exemplo, apesar de produzidos dentro do mesmo período histórico, possuíam pouca, ou quase nenhuma, conexão com o universo principal da editora. De fato, dentre as séries produzidas por licenciamento, acredito que apenas Conan, o bárbaro, Micronautas e Rom possuíram ramificações maiores no Universo 616 que não fossem apenas participações de personagens da editora como no caso da série do Godzilla (1977-1979), por exemplo.


Ainda sobre essas inserções, é aqui que temos em primeira mão uma das marcas da Marvel dos anos 1980, devido ao cuidado e organicidade com que as mesmas são realizadas, isso tanto em nível narrativo, quanto conceitual. Em termos narrativos, temos o encontro de Rom com outros personagens, sendo seu encontro com os X-Men, por exemplo, motivado pela presença do Híbrido, um mutante de mãe humana e pai Espectro. Novamente, é claro que o objetivo desses encontros é sempre promover a revista, mas o cuidado com que a história é elaborada, assim como as motivações para tal encontro, superam, em muito, algumas desculpas que temos hoje para participações especiais.


Rom vs. Colossus

Quanto ao que diz respeito aos conceitos que serão acrescentados no universo Marvel, temos os próprios Espectros, que serão mais tarde relacionados aos Skrulls, a clássica raça de aliens transmorfos criados ainda no Quarteto de Fantástico de Stan Lee e Jack Kirby; o Limbo, dimensão para onde os mesmos são banidos pelo Nulificador de Rom; e os próprios cavaleiros espaciais e Gálador. De fato, por mais que a editora tenha perdido os direitos sobre Rom, que eventualmente vieram a ser adquiridos pela Hasbro após a compra da Parker Brothers, os direitos eram específicos ao personagem em si, podendo a editora utilizar todos os conceitos elaborados por Bill Mantlo ao longo da série do personagem. Tanto é que, os cavaleiros do espaço são uma presença constante até os dias de hoje, tendo, inclusive, uma participação na maxisérie Era de Ultron (2013).


Um outro conceito deixado por Rom, e que eu particularmente acredito ser de extrema importância, é o da presença de aliens infiltrados em posições chaves do governo. A ideia de agentes infiltrados, humanos ou não, não é algo necessariamente novo ou original por si só. Mas a ideia de ter aliens transmorfos ocupando áreas chaves do governo e de agências, S.H.I.E.L.D. inclusa, é estranhamente familiar ao conceito apresentado em Invasão Secreta (2008), onde é revelado que os Skrulls, uma raça de aliens transmorfos, estava há anos infiltrado em posições chaves do governo e suas agências, S.H.I.E.L.D. inclusa, e também entre a própria comunidade de super-heróis.


De novo, pode ser só uma coincidência - afinal, o conceito em si não é necessariamente novo ou inédito - mas ainda assim, é uma bela coincidência, não?


Rom e seu Nulificador

No que diz respeito às histórias, Rom era uma leitura extremamente divertida. E extremamente melancólica. Sob muitos aspectos, o Cavaleiro do espaço se assemelha bastante ao Surfista Prateado, tanto por ser um estranho em um mundo estranho, como pode ser um personagem modelo.


Como estranho, as histórias de Rom tratão sempre um enfoque em seu isolamento e alienação com relação aos humanos. Mesmo quando vem a ser aceito, sua natureza de ciborgue traz também uma série de problemas e impossibilidades de relacionamento, o que acentua ainda mais seu distanciamento dos demais personagens de seu núcleo.


No quis diz respeito ao personagem modelo, vamos fazer um pequeno aparte sobre isso:


Um personagem modelo. Personagens modelo - do inglês paragon - são personagens notadamente conhecidos por serem o exemplo a ser seguido. No caso dos super-heróis, eles seriam os heróis dos heróis. Pense no Super-Homem, por exemplo, ou no próprio Surfista Prateado, personagens gentis, nobres e altruístas. Um personagem, enfim, que é bom porque sua própria natureza é boa. Isso é um personagem modelo.


Feito esse aparte, podemos voltar à programação normal:


Rom é um personagem que se encaixa perfeitamente nessa categoria. Não só será a partir de seu exemplo que os demais gáladorianos a se voluntarião para o programa do cavaleiros espaciais, como também vem dele o exemplo no campo de batalha. Não só isso, é o próprio Rom quem opta pelo exílio voluntário para caçar e banir os seus inimigos do universo, abdicando, assim, de seu amado planeta natal para garantir a paz no universo. É, finalmente, será o cuidado que o ciborgue dedicará aos seres humanos que fará com Steve Jackson e Brandy Clark terminem por acreditar e acompanhá-lo em suas jornadas.


Essa própria nobreza do personagem, por sua vez, trará também os sacrifícios que lhe serão cobrados que, desde o isolamento em um planeta estranho, como o isolamento de relacionamentos, fazendo jus a tradição do herói Marvel - o personagem atormentado pego entre seus próprios desejos e seu senso de dever.


No futuro, pretendo falar um pouco mais sobre esses tópicos, e mais especificamente sobre Rom e suas histórias, de modo que não pretendo me estender muito nesse tópico hoje, certo? Mas pode ficar tranquilo que essa não será a última vez que falaremos sobre o Cavaleiro do espaço.


Espero ter conseguido apresentar um pouco mais sobre o porquê desse anúncio ser tão importante e compartilhado com você um pouco da minha empolgação com esse retorno. Porque, se não deu para perceber até agora, estou bem feliz com essa notícia, e ansioso para por as mãos nesses volumes.


Enquanto isso não acontece, basta saber que Rom, O Cavaleiro do Espaço está de volta, e isso por si só já é motivo para comemorar \o/ \o/ \o/


Antes de encerrar, vou deixar aqui um link para um artigo do Comic Art Community que traz um panorama bem interessante sobre a história dos licenciamentos da Marvel Comics, e que você pode acessar por aqui:


E, agora sim, por hoje é só, pessoal!


 

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