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  • Foto do escritorLucas Freitas

Resenhas de Setembro ( I ) - Eu Sou a Lenda

Atualizado: 16 de abr.

Na resenha de hoje, um dos clássicos mais importantes da ficção científica, escrito pelo grande mestre Richard Matheson.


Detalhe de capa Eu sou a Lenda

E retornando com as resenhas, trago aqui a resenha de mais um clássico - porque, aparentemente, eu gosto de desafios - desta vez, a resenha de hoje é voltada para o livro Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson, publicada pela Editora Aleph.


E antes de começarmos, já fica aqui o aviso: pode esquecer o filme com Will Smith. Este livro tem uma pegada beeem diferente. Então, se você está esperando por uma história de ação, romance e esperança, infelizmente, este não é o lugar para isso.


E uma vez que já acertamos nossas expectativas, podemos começar com a resenha propriamente dita.


  • Eu Sou a Lenda:

Capa de Eu Sou a Lenda

Escrito pelo lendário Richard Matheson (1926-2013), Eu Sou a Lenda conta a história de Robert Neville, o último sobrevivente de um mundo assolado por uma pandemia. Ou melhor , o último sobrevivente humano, uma vez que, como efeito colateral da doença, o restante da população mundial foi transformada em vampiros sedentos de sangue.


E já de saída temos alguns pontos extremamente interessantes, e importantes, sobre este romance. Primeiro, tendo sido publicado pela primeira vez em 1954, ele pode ser considerado como uma das origens das narrativas de apocalipse zumbi, sendo, inclusive, uma das referências de George A. Romero (1940-2017) para o filme A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of the Living Dead, 1968). Assim, caso a premissa possa lhe parecer pouco original hoje, lembre-se que este é o seu local de origem, ou, se preferir, seu paciente zero. Não só isso, temos também um dos primeiros movimentos de "cientificação" do mito do vampiro, que passa a ser apresentado como o produto de uma bactéria.


Mas, por mais que esse processo de explicação do vampiro encaixe a narrativa na tradição da ficção científica, não se engane, pois ela ainda é uma bela história de terror.


Completamente só, Neville se vê preso em uma rotina infernal, onde, todos os dias, ele precisa se proteger dos ataques perpetrados contra sua casa à noite, enquanto que, de dia, precisa não só consertar os estragos provocados por seus atacantes, mas também providenciar sua própria sobrevivência buscando recursos e eliminando os vampiros adormecidos da região.


E é aqui que o verdadeiro terror de Eu Sou a Lenda se desenvolve. Pois, por mais aterrador que seja o combate incessante com hordas de vampiros, é o isolamento o verdadeiro monstro por trás da história. Sem mais conexões com a sociedade humana, sem ter com quem conversar ou com quem interagir, acompanhamos um protagonista atormentado e frustrado, sofrendo com as consequências de seu isolamento. De fato, já no começo do livro, temos um Neville quebrado pelos traumas de suas experiências de sobrevivência e matança, caído em depressão e afundado no alcoolismo, incapaz de compreender o porquê de ainda persistir vivo.


Reduzido à própria necessidade de sobrevivência, sofrendo com seus desejos e dores não realizados - e impossíveis de serem realizados - o protagonista é assim aproximado aos próprios vampiros que tentam invadir a sua casa, em um processo que termina borrando as fronteiras que separam monstro e humano - um tema que será retomado mais à frente no livro.


Esses momentos de isolamento, serão quebrados apenas em dois pontos distintos. Nesses momentos, mais do que em todo o livro, conseguimos sentir todo o peso da solidão que envolve Neville, sentindo o seu desespero, e felicidade em encontrar qualquer tipo de companhia naquele mundo desolado, mesmo que ela se revela na forma de um cachorro abandonado. Na verdade, é em toda a sequência do cachorro que acompanhamos os momentos mais francamente desesperados e tristes do livro, à medida em que o protagonista começa a estabelecer toda uma rotina em torno do animal.


Um outro ponto interessante do livro se encontra no fato de que toda a história se desenrola na vizinhança de Neville, com muitos dos vampiros sendo seus conhecidos e até mesmo amigos. Essa decisão por parte de Matheson não apenas traz o terror para os subúrbios, como também faz dos vizinhos do protagonista os monstros que o atacam, reforçando não só a sensação de perda de segurança, como também amplia o horror do ato da matança do protagonista - uma vez que os vampiros, apesar de contaminados e mortos, nada mais são do que conhecidos de Neville.


No entanto, talvez o ponto mais interessante do livro esteja em seu final, uma vez que joga para o leitor uma ideia que o faz colocar toda a história em perspectiva, borrando mais uma vez os limites entre herói e monstro - e, dessa vez, de uma forma irrecuperável. Particularmente, esse foi o ponto alto do romance para mim, sendo um dos finais mais interessantes e dignos da versão original da série Além da Imaginação - que teve roteiros feitos pelo próprio Matheson.


Não que o livro só tenha coisas boas.


De fato, apesar de trabalhar com uma premissa e ideias bem interessantes, por conta de seu foco na solidão de Neville, Eu Sou a Lenda não consegue transmitir bem o clima de claustrofobia de se ver sitiado em casa, como presente em romances como A Casa do Limiar, de William Hope Hodgson (1877-1918), por exemplo. Não só isso, por sua própria natureza, a narrativa tende a se arrastar em alguns momentos, uma vez que por mais aterradora e monstruosa que seja a rotina do protagonista, ela ainda é uma rotina, chegando a se tornar repetitiva bem rápido.


Ainda que seja, de certa forma, um testemunho da capacidade humana de adaptação, é um fator que torna a leitura do livro muitas vezes arrastada. Nada, no entanto, que o torne uma experiência ilegível.


Por fim, gostaria de elogiar a linda edição da Aleph, que conta com tradução de Delfim e com essa capa fantástica feita por Butcher Billy, que, além do romance, traz também uma entrevista com Richard Matheson e um artigo do professor Mathias Clasen, da Universidade de Aarhus, Dinamarca, sobre o livro traduzido pela Luara França, que oferece ao leitor um ótimo material complementar para melhor entender o livro.


Nota: 3 de 5


Lembrando que, caso queira adquirir o livro - e dar uma forcinha para o site - você pode aproveitar este link aqui para adquirí-lo pela Amazon e me dar uma forcinha ; )


Link da Amazon: Eu sou a Lenda


E, aproveitando, deixo aqui também alguns sites para leitura complementar sobre o livro e sobre a influência do mesmo na obra de George A. Romero.


Leitura complementar:




Até a próxima!


 

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