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Foto do escritorLucas Freitas

Dungeons & Dragons: Honra entre rebeldes e o uso de arquétipos na construção de personagens

Atualizado: 4 de abr.

Nessa não resenha do novo filme baseado em D&D gostaria de propor uma breve discussão sobre a importância dos arquétipos na criação de personagens.


Dungeons & Dragons poster do filme

Então, sim, assisti ao novo filme de D&D (Dungeons & Dragons: Honra entre rebeldes) e posso dizer que ele é muito bom - e infinitamente melhor que aquela versão dos anos 2000. Infelizmente, esse texto não vai ser uma resenha, mas antes, uma série de observações sobre uma das coisas que mais me chamou atenção do ponto de vista narrativo no mesmo: o uso de arquétipos na construção dos personagens.


O que exatamente são arquétipos? Bem, de uma forma bem grosseira e simplificada,

podemos considerar arquétipos como padrões - de características, comportamentos, emoções, temas. A beleza desses padrões está no fato de que os mesmos são facilmente reconhecíveis pelo leitor/espectador, de modo que podem ser usados como base para a criação tanto de personagens, quanto de símbolos, emoções, situações, etc.. Não só isso, por serem construídos a partir de uma série de experiências e vivências anteriores que perpassam o meio cultural em que vive, os arquétipos também conseguem provocar fortes reações no público quando bem utilizados, sendo esse um de seus efeitos mais interessantes.


Mas atenção! Um arquétipo é diferente de um estereótipo. Enquanto o arquétipo funciona mais como um molde, ou base, que pode ser usada para o processo de criação, o estereótipo, por sua vez, já é um produto finalizado que é marcado pela simplificação extrema de uma ideia ou conceito. Não só isso, na grande maioria dos casos, essa simplificação não só é generalizante, como também tem um foco nos elementos mais negativos dessa ideia/conceito.


Tendo feito essa distinção, vamos lá:


Como mencionado no começo do texto, no filme de D&D muitos dos personagens que compõem a party dos protagonistas são construídos a partir dos arquétipos das classes do RPG, bem conhecidos pelos jogadores. Por exemplo, o bárbaro é o personagem que se caracteriza pela força bruta, inteligência limitada e uma visão de mundo onde a violência é a primeira e mais efetiva das respostas. Já o mago, por outro lado, é um personagem mais cerebral, pautado pela inteligência e por uma constituição forte o suficiente apenas para deixá-lo de pé. Isso provoca situações bem divertidas - e algumas vezes tensas - durante os jogos, mas, no filme, provocará dois efeitos bem interessantes.


O primeiro deles é que isso permite uma identificação rápida e imediata dos personagens, permitindo com que o espectador se localize entre eles. Apesar dessa ser uma característica vital em toda e qualquer obra, em um filme cujo foco é uma equipe, esse fator de localização é de extrema importância.


Quer um exemplo? Bem, já que estamos falando de filmes de fantasia, vamos pegar O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001).


O Senhor dos Anéis detalhe do pôster

Ao pensar em personagens como Aragorn e Gandalf , por exemplo, tenho certeza de que você consegue imaginar pelo menos 1 de suas características. Da mesma forma, se você pensar em Frodo e Sam, você também vai conseguir entender quem eles são, o que os diferencia um do outro e como eles são diferentes de Merry e Pippin. Cada um desses personagens, em resumo, são únicos, não podendo ser substituídos por outros. Considerando que a Sociedade do Anel tem 9 integrantes - pelo menos no primeiro filme - e interage com uma grande quantidade de personagens, permitir que o público saiba quem são cada personagem, o que eles fazem, acreditam ou se comportam de forma fácil e direta, é de extrema importância para que o público possa investir nos personagens, torcendo e se preocupando com eles.


"E quando isso não acontece?", você deve estar se perguntando. Nesse caso, pense em filmes como Esquadrão Suicida (2016). Ok, sei que é apelação - até porque esse filme possuí vários problemas - mas vamos nos concentrar na ideia da coisa. Quantos personagens temos no filme? Quantos deles você se lembra? Quantos podem ser completamente substituídos por outros sem que a história perca com isso? Consegue perceber o ponto?


Aqui vale fazer uma nova observação: construir um personagem não se limita a utilizar arquétipos. Eles podem ser um excelente ponto de partida, adicionando camadas e tempero a sua criação, mas não substituem, em hipótese alguma, todo o processo de construção de personagem. Da mesma forma, não substituem personalidade. Então, vá com calma.


O segundo ponto interessante do uso dos arquétipos está no fato de que, por já trazerem algumas características consigo, eles já preparam algumas das dinâmicas dos personagens em cena, o que pode ser uma baita mão na roda para o roteirista.


E por que isso é importante? Bem, por mais que possamos definir e caracterizar um personagem da melhor forma possível, será apenas quando houver uma interação entre ele e um outro personagem que realmente conseguiremos ter um panorama completo dele. Suas ações, comportamentos e reações, quando em confronto com o outro, serão os responsáveis por dar cor, forma, profundidade e sabor ao personagem, permitindo que o mesmo adquira dimensão aos olhos do público.


Em uma narrativa focada em um grupo - seja ele equipe ou família - as dinâmicas entre os personagens serão o tempero que dará sabor à trama.


O grande porém, é que trabalhar bem uma dinâmica entre personagens é algo complexo. E essa complexidade tende a aumentar a medida em que se vai adicionando novos personagens à história, uma vez que personagens diferentes agirão de formas diferentes, ainda que seus objetivos possam estar alinhados.


Voltando ao nosso exemplo do Senhor dos Anéis: sabemos que Sam é o personagem leal, dedicado e protetor, certo? Assim, ao se ver diante de um personagem que represente uma possibilidade de ameaça para Frodo, ele reagirá de uma determinada maneira, tendo uma dinâmica diferente da que teria com um personagem que se apresentasse como aliado. Suas falas, ações e gestos serão pautados com base em seu arquétipo de amigo fiel. Por outro lado, Aragorn também é amigo de Frodo, e também está ali para protegê-lo. Contudo, suas ações e reações diante do perigo terão um caráter diferente dos de Sam.


Assim, ter um arquétipo que possa servir de base para que o roteirista/escritor possa desenvolver essas interações termina sendo uma ferramenta extremamente útil no momento de desenvolver a narrativa.


Mas de novo, fica aqui aquela observação: construir um personagem, assim como construir e desenvolver dinâmicas não se limita a utilizar arquétipos. Eles podem ser um excelente ponto de partida, adicionando camadas e tempero a sua criação, mas não substituem, em hipótese alguma, todo o processo de construção de personagem e de dinâmicas. Portanto, vá com calma.


Levando em conta que esse já é o segundo aviso sobre o tema, acho que também vale a pena falar do que acontece quando o arquétipo é utilizado de forma "errada". Bem, nesse caso, temos um dos piores cenários possíveis, pois não só os personagens ficam engessados e sem vida, assim como as suas dinâmicas. Não só isso, por serem padrões bem conhecidos pelo público, a história também tende a se tornar previsível, monótona e enfadonha.


Então, quando digo que é pra ir com calma, é realmente para ir com calma, ok?


Bem, acho que era isso que gostaria de falar sobre o assunto. Em um futuro, não sei se próximo ou não, talvez traga uma resenha para complementar o texto de hoje. Mas agora, queria saber a sua opinião sobre o tema. Sim, você concorda, discorda ou está sem corda? Me diz o que você acha nos comentários e vamos conversar um pouco sobre essa questão de arquétipos. Estou ansioso para saber quais as suas opiniões sobre o assunto = )



 

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