Apesar do potencial inato do conceito, demorou muito para que o Doutor Estranho pudesse adentrar no universo do horror cósmico de H. P. Lovecraft
E continuando com nossa programação especial de Halloween, hoje trago aqui um post especial sobre o Doutor Estranho que eu já tinha feito há um bom tempo, mas que, por um motivo ou outro, jamais publiquei, sobre o primeiro encontro entre o Mestre das Artes Místicas do Universo Marvel, e os mitos de Cthulhu, uma ideia que, a bem da verdade, não deveria ter demorado tanto para acontecer.
Mas antes, que tal irmos por partes e começarmos nosso post falando um pouco sobre nosso bom doutor Stephen Strange?
Doutor Estranho, mago supremo da Marvel - uma introdução:
Criado em 1963 por Steve Ditko e Stan Lee, nas páginas de Strange Tales n. 100 , o Doutor Estranho é uma das "poucas" crias da parceria entre Ditko e Lee na Marvel. Para quem ainda não conhece o personagem aqui vai uma breve apresentação:
Um neurocirurgião brilhante, Stephen Strange também era o exemplo encarcanado do orgulho e egocentrismo. Isto é, até o dia em que um acidente de carro o privou do movimento fino que suas mãos precisavam para operar. Desesperado, Strange gastou toda sua fortuna em busca de tratamentos, apenas para se encontra de volta ao ponto de partida. É no auge de seu desespero que o ex-neurocirurgião escuta uma história sobre o Ancião, um místico que, vivendo isolado no alto dos Himalaias, seria capaz de grandes feitos, curando até mesmo doenças e condições consideradas como incuráveis pela ciência e medicina modernas.
Ao chegar lá, Strange é convidado pelo velho mago a permanecer em seus domínios, estudando as artes místicas em busca de sua cura. Apesar de descrente e revoltado com aquela solução, Stephen permanece se tornando um aluno do Ancião ao lado de Barão Mordo. Mesmo descrente, a opinião do médico muda ao perceber os atentados perpetrados por seu colega de estudos contra o Ancião, o que o faz decidir permanecer e ajudar o velho.
No entanto, o Ancião já se encontrava ciente dos atentados de Mordo, de modo que esperava apenas que Strange tomasse sua decisão para torná-lo seu discípulo e assim, oferecer uma nova força de proteção contra as forças místicas que assolam a Terra.
Desde então, o Doutor Estranho tem se mostrado um personagem bastante peculiar, principalmente no universo dos super-heróis. Já relativamente velho para os padrões dos aventureiros padrão, o mago também é um personagem que dificilmente se engaja em conflitos físicos - diferente do que os filmes nos levam a ver.
Não só isso, ele é um personagem com uma natureza mais fechada e introspectiva, passando mais tempo em seu Sanctum Sanctorum, envolvido em suas pesquisas e estudos, do que nas ruas da cidade de Nova York. E mesmo quando saí, é para mundos e dimensões completamente diferentes da nossa, transitando, muitas vezes, por regiões além da compreensão humana.
É justamente por conta disso que é de se estranhar que o primeiro encontro entre o Doutor Estranho e criaturas lovecraftianas só tenha ocorrido em 1969, seis anos após a sua primeira aparição, no primeiro arco de história do Inominável, iniciado em Doctor Strange v1 n.183, e que se estenderia pelas edições 22 de Sub-Mariner (a revista do Namor) e 126 do Incrível Hulk.
Digo primeiro porque é nessa história, intitulada, Eles caminham à noite (They walk by night), que temos uma história que segue claramente uma série de padrões que caracterizam muitos dos contos de H. P. Lovecraft, referenciando inclusive vários momentos de seus contos e novelas, nas situações encaradas pelo Doutor Estranho, como iremos ver a seguir:
Mas antes, que tal falarmos um pouco sobre a obra do Cavalheiro de Providence?
Antes do Doutor Estranho enfrentar Cthulhu, havia o criador de Cthulhu - Um pouco das características do trabalho de H. P. Lovecraft:
Certo, certo, sei que você entrou neste artigo para ver um texto sobre uma história onde o Doutor Estranho estaria enfrentando entidade cósmicas de horror indescritível, e prometo que já vamos chegar nisso. Antes, porém, vamos falar rapidamente sobre a obra de H. P. Lovecraft, sim?
Bem, para quem não conhece a obra de Howard Phillips Lovecraft (vulgo H. P. Lovecraft, 1890-1937), minha primeira recomendação é de que vá atrás dela.
Porque, veja bem, é impossível falar de terror hoje sem mencionar o trabalho deste autor norte-americano.
Trabalhando na vertente do horror cósmico, um subgênero do horror que, a grosso modo, trabalha não só com o medo do desconhecido, mas também com um senso de hostilidade, ou mesmo indiferença do universo para com o ser humano, Lovecraft soube explorar como poucos o espírito de seu tempo, valendo-se da grande expansão que o conhecimento humano vinha passando para promover um um ponto de virada no horror, deixando de lado as criaturas mais tradicionais do gênero como fantasmas, lobisomens e vampiros, para explorar as possibilidades que o desconhecido ainda nos reservava, de onde seu exército de monstros é quase sempre compostos por criaturas vindas do espaço ou de outras dimensões.
Mas mais do que apenas alienígenas, as criaturas lovecraftianas atuam como representações do quão limitado é o conhecimento do ser humano a respeito do universo que o rodeia, sendo a sua existência atual um verdadeiro milagre perante as criaturas e coisas que habitam esse mesmo universo.
Essa ignorância, por sua vez, é reforçada também pelas várias civilizações que floresceram e pereceram na própria Terra, e que são desconhecidas pela vasta maioria da humanidade. Ainda que muitas delas se encontrem extintas, seus conhecimentos e construções ainda permanecem, irradiando de locais hoje remotos para os centros da humanidade, aterrorizando a humanidade com seus conhecimentos profanos e hediondos.
Bem, como este não é um texto sobre Lovecraft, acredito que essa breve introdução vai servir para o que pretendemos fazer hoje. Em outra ocasião, juro que irei me debruçar mais a fundo na história do autor e de sua obra.
Hoje, porém, vamos voltar para o Doutor Estranho.
Doutor Estranho e a Saga do Inominável - Eles Caminham à Noite, a história:
Com roteiro e texto de Roy Thomas e arte de Gene Colan, a história tem início com o Doutor Estranho em pleno voo em uma noite tempestuosa. Conforme iremos descobrir mais tarde, sua viagem é motivada por um pedido de ajuda encaminhado por um velho amigo, Kenneth Ward.
Apesar de ainda não sabermos qual o motivo desse chamado, todo o ambiente, da tempestade que toma a noite aos receios do próprio Strange e Clea, sua companheira, em relação à súbita convocação anunciam que algo sinistro está por vir. Essa sensação é reforçada pela bela arte atmosférica de Colan, que dá peso e emoção tanto aos cenários quanto aos seus personagens.
Uma vez na casa de Ward, o Doutor Estranho é recebido por seu mordomo, que o conduz até o quarto do dono da mansão. É aqui que temos as primeiras informações a respeito do amigo do mago, que é revelado como sendo um explorador renomado. Apesar de estranhar a presença do mordomo e dos dois seguranças à porta do quarto de Ward, a curiosidade do mago é maior, o que o leva a adentrar no cômodo, mas apenas para encontrar seu velho amigo sentado em uma cadeira de rodas, envolvido na mais completa escuridão.
Sentindo a presença de uma força mística, e querendo saber mais sobre o caso, o Doutor Estranho utiliza o Olho de Agamotto - o artefato místico que é sua arma de assinatura e que lhe permite descobrir a verdade por trás de qualquer cenário - mas apenas para descobrir que o abalado e exaurido Kenneth não consegue se lembrar do porquê de tê-lo convocado até ali. É nesse instante que o mago é conduzido para fora do quarto pelo mordomo, que lamenta que a conversa com o seu patrão tenha sido tão curta, à medida em que vai conduzindo Strange até o quarto onde ele ficará, trancando-o logo em seguida. Já esperando por aquele cenário, o Mestre das Artes Místicas utiliza seu poder para criar uma imagem falsa sua e abandona sua prisão, decidido a conversar novamente com seu amigo.
Novamente no quarto de Ward, o Doutor Estranho desfaz o feitiço que envolve o explorador, liberando assim as memórias de sua última jornada. É só então descobrimos a história completa. Movido por um sonho, Ward havia viajado até o continente asiático e vagado por dias pela cordilheira dos Himalaias até se deparar com os resquícios de uma antiga cidade, com construções erguidas por mãos não humanas em formas de estranha geometria, quiçá até mesmo poderíamos defini-las como de uma geometria não euclidiana, retratando estátuas de criaturas que jamais foram vistas por qualquer homem vivo.
Nesse local, o Ward se depara com um estranho totem representando uma imagem impossível de ser identificada pelo explorador. Assim, incapaz de definir o que seria aquele ídolo, o homem a leva de volta para seu lar, na tentativa de decifrar a inscrição que a acompanha. Quando ele finalmente alcança o se objetivo, descobrindo não só o que estava escrito ali, mas também parte da história da sua construção e da cidade que o abrigava, Ward percebe a real dimensão do problema, e decide pedira ajuda a Stephen Strange, vulgo Doutor Estranho. No entanto, é pouco depois de enviar o telegrama de socorro, ele se vê atacado por três criaturas surgidas das sombras.
Nesse ponto, as suspeitas do Doutor Estranho são confirmadas quando o mago se vê engajado em um combate mortal contra os três estranhos, que se revelam como sendo servos do Inominável, a criatura representada no ídolo resgatado por Kenneth. Percebendo a relação entre as criaturas e as trevas, o Mestre das Artes Místicas acelera o tempo para poder utilizar a luz do Sol para eliminar seus inimigos. Infelizmente, durante o combate, o amigo de Strange vem a falecer, deixando o mago sozinho para seu futuro combate contra o Inominável.
Bem, se você tem acompanhado o texto até aqui, já deve ter entendido as conexões entre os dois universos. Se não, é exatamente sobre isso que vou falar agora.
Elementos lovecraftianos na Saga do Inominável - Doutor Estranho em O Chamado de Cthulhu:
Então, desde a abertura desta história do Doutor Estranho, fica clara a influência dos elementos lovecraftianos na narrativa. De fato, o primeiro recordatório da história é justamente uma citação extraída diretamente daquele que talvez seja um dos contos mais famosos de Lovecraft, "O Chamado de Cthulhu" (The Call of Cthulhu, 1928):
Essa, no entanto, não será a última vez em que O Chamado de Cthulhu será referenciado de alguma forma por aqui. Pois, ainda que esta história do Doutor Estranho referencie uma série de contos de Lovecraft , como iremos abordar mais à frente, talvez seja O Chamado aquela com o maior número de referências.
Quer outro exemplo? Bem, o próprio ídolo que "representaria" o Inominável.
Sendo uma mixórdia de formas e informações que se sobrepõe em uma ordem estranha, o ídolo que representa uma forma indescritível, não sendo nem totalmente humanoide, nem uma forma plenamente bestial. Essa estranheza, remete muito ao conceito de horror lovecraftiano, onde classes e categorias de misturam, gerando assim uma criatura que não pode ser definida pela mente humana, de modo análogo à representação em argila de Cthulhu:
De fato, por mais que tenhamos definições e representações das criaturas lovecraftianas, nas palavras do próprio autor, essas definições são impossíveis, uma vez que o ser humano não conseguiria sequer começar a conceber os horrores cósmicos antes de sucumbir à loucura, de modo que o máximo que podemos ter são aproximações.
Por fim, a própria forma de comunicação por sonhos que leva Ward até a cidade perdida é uma outra marca característica de O Chamado de Cthulhu. Uma característica recorrente nos trabalhos do autor, tanto nos contos dos Mitos de Cthulhu quanto no próprio ciclo das Dreamlands, os sonhos, em Lovecraft são uma forma através da qual seus personagens podem entrar em contato tanto com as entidades presentes neste universo, como também adentrar domínios e mundos situados para além dos recônditos de nossa realidade.
Essa comunicação, por sua vez, não são realizadas por todos, mas apenas por alguns indivíduos, tanto os mais criativos, como artistas, como também por aqueles que, de algum modo, já travaram conhecimento com esses conhecimentos. No caso de O Chamado de Cthulhu, o escultor Henry Anthony Wilcox, o primeiro caso estudado pelo professor Angell (tio-avô do narrador do conto), é um exemplo disso. Já na história do Doutor Estranho, Kenneth Ward é o condutor deste contato, sendo, assim como o pesquisador, uma vítima dos cultistas da entidade.
E falando no explorador, ele também possuí suas próprias referências...
Elementos lovecraftianos na Saga do Inominável - Doutor Estranho investiga o Caso de Charle...Kenneth Ward:
Já de saída, o sobrenome do amigo do Doutor Estranho não é escolhido ao caso. Como já brinquei acima, o nome faz referência ao O Caso de Charles Dexter Ward (The Case of Charles Dexter Ward), uma novela escrita por Lovecraft em 1927, mas que não chegou a ser publicada em vida. De fato, a primeira publicação do Caso data de 1941, mas em versão resumida. A versão integral, tal qual escrita pelo Cavalheiro de Providence, só viria a sair em 1943, na antologia Beyond the Wall of Sleep, da Arkham House.
Sendo um explorador, Kenneth Ward também garante sua colocação no rol de típicos personagens lovecraftianos, marcado por cientistas e exploradores que, movidos por sua sede de conhecimento, terminam se colocam diante de horrores cósmicos que escapam à sua própria compreensão, sendo este, inclusive, o destino reservado para o amigo do Doutor Estranho.
Não só isso, a carreira de Ward irá permitir também que um outro elemento muito caro à Lovecraft seja trazido á tona: os resquícios de uma civilização antiga e há muito esquecida.
O encontro com os restos de antigas civilizações e culturas em locais tido como desabitados ou inóspitos é uma característica recorrente no trabalho do autor, sendo um dos elementos na construção do ambiente lovecraftiano, sendo uma das formas do autor estabelecer não apenas a antiguidade da própria Terra e do universo perante a humanidade, mas também um modo de ilustrar a vastidão da ignorância humana, que conhece apenas uma parte ínfima da história de seu próprio mundo.
Esse tema, que perpassa boa parte da obra do autor, é encontrado principalmente em sua novela Nas Montanhas da Loucura (At the Mountain of Madness, 1931), onde um grupo de cientistas se depara com uma antiga cidade erguida na desolação do continente antártico, mas também aparece em outras obras, como no A Sombra Vinda do Tempo (The Shadow Out of Time, 1936), onde aprendemos sobre os estudos realizados pela Grande Raça de Yith e os desenvolvimentos de sua civilização no deserto australiano, e mesmo em contos como A Cidade Sem Nome (The Nameless City, 1921), onde um explorador se depara com os vestígio de uma antiga civilização no deserto árabe.
E isso apenas para citarmos algumas obras do autor.
Ainda sobre o tema das cidade e civilizações, é importante observa como Gene Colan tenta emular as descrições de Lovecraft sobre as estranhas geometrias e formas de suas cidades, algo que sempre torna adaptações visuais do trabalho do autor uma tarefa complexa, visto que, por definição, o indescritível sempre perde seu impacto ao ser representado de forma visual.
Colan, no entanto, faz o seu melhor, tanto representando a cidade quanto às estátuas com formas estranhas e pouco usuais, carregando no aspecto pouco funcional e alienígena dos objetos e nos ângulos e formas duras das estátuas.
Agora, voltando para Ward um outro ponto que gostaria de trazer a respeito do personagem se encontra na página de introdução do mesmo. Se o convite inesperado já seria motivo de curiosidade, o modo como o explorador é apresentando, sentando em uma cadeira de rodas, envolvido pela mais completa escuridão e rodeado por estranhos, segue uma estrutura bastante próxima da novela Um Sussurro nas Trevas (The Whisperer in darkness, 1931) que, em sua reta final, segue uma premissa bem parecida com o início da história do Doutor Estranho, com o protagonista sendo convidado por seu amigo e correspondente para uma visita em sua casa, onde passa uma longa noite conversando com uma figura misteriosa envolta em trevas.
E essas, é claro, são apenas algumas das referências que mais se destacam na história.
Doutor Estranho vs. O Inominável, uma história que não terminou:
Então, é aqui que as coisas se tornam um tanto quanto curiosas nesta pequena aventura do Doutor Estranho.
Uma vez que sua revista mensal não vendia bem - um problema que sempre perseguiu o personagem - a edição 183 marca também o fim da primeira série do Mestre das Artes Místicas, com o restante da história do Inominável tendo se distribuído pelas revistas Sub-Mariner v1. n.22 (1969), e se encerrando nas páginas de The Incredible Hulk v1. n.126 (1970), que, apesar de contarem com roteiro e textos do próprio Roy Thomas, tiveram seu efeito diluído pela mudança constante de ritmo e de protagonistas.
Ainda assim, o arco foi importante para definir as bases daquilo que viria a ser a primeira encarnação dos Defensores, equipe que reuniria não só os três personagens mencionados acima, como também marcaria o retorno do Doutor Estranho às histórias da Marvel, em 1971.
Posteriormente, os Defensores voltariam em uma série própria, trazendo, desta vez, um reforço de peso na forma do Surfista Prateado, em uma aventura mais uma vez ocasionada pelas ações do Inominável, que se tornaria um dos oponentes recorrentes da equipe.
Ainda assim, essa não foi a única ocasião em que o Mestre das Artes Místicas se deparou com criaturas lovecraftianas, existindo um outro arco que eu particularmente considero tão influenciado pelo trabalho de Lovecraft quanto este.
Mas esta é uma história para um outro dia e, quem sabe, para um outro Halloween.
Então, como já é costume, vou deixar aqui algumas recomendações de livros sobre e de Lovecraft como recomendações para o Dia das Bruxas. Estes são alguns de meus trabalhos preferidos do autor ou, no caso da biografia e dos estudos, sobre ele.
Lembrando que, ao adquiri-los por aqui, você está me ajudando a produzir mais conteúdo como este, então, desde já meu muito obrigado!
Contos Reunidos do Mestre do Horror Cósmico - Editora Ex Machina
H.P. Lovecraft - O cão de caça e outras histórias - Mangá por Gou Tanabe
A Vida de H.P. Lovecraft - Biografia do autor por S. T. Joshi
Biblioteca Lovecraft - Vol. 1: O chamado de Cthulhu e outras histórias
Um Sussurro nas Trevas - Hedra
O Caso de Charles Dexter Ward - L&PM
A Tumba e Outras Histórias - L&PM
Já estes aqui, são edições que você encontra no site da Diário Macabro e da Clock Tower, duas editoras nacionais conhecidas por seu trabalho com a obra do autor
Relances vertiginosos do desconhecido: a desolação da Ciência em H. P. Lovecraft
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